Vitórias asfixiantes da liberdade e da dignidade das populações, resultantes de decisões fabricadas por instituições e organizações capturadas/partidarizadas, talhadas para assegurar a manutenção ad eternum de quem detém o poder.
Geradoras de gritantes desigualdades políticas, económicas e sociais, as citadas vitórias promovem a corrupção, o gangsterismo e o medo como instrumento de controlo da sociedade.
Medo da morte, de perder o emprego ou estatuto social, de ver a sua privacidade invadida e exposta, de ser ostracizado e tratado como pária. De assassinatos praticados por esquadrões da morte, criados para "tirar do caminho" quem "atrevidamente" ouse destapar maracutaias e crimes do regime. Nesses casos, a captura do Estado pelo crime organizado torna-se real.
Concorrem para a efectivação e sustentação da fraude geral, a normalização do clientelismo, da corrupção e do suborno. Por isso, a fraude eleitoral só se torna praticável se apoiada e enquadrada num conjunto de outras fraudes.
Nesse sentido, os actores e executores da fraude, centrados num único projecto - o enriquecimento pessoal -, têm de ser muito bem recompensandos, estimulados pelo seu desempenho, indispensável para a perpetuação do regime, razão de toda a acção política da elite do poder.
Essa execução, envolvendo diversos sectores e empreitadas, fazem parte da grande indústria da fraude, composta por pequenas e médias indústrias em cadeia, integradas por eventos e actos transversais que envolvem áreas vitais da sociedade, nomeadamente a justiça, a educação, os media, entre outras.
Integra ainda uma oposição manietada, forças de segurança sempre em "prontidão combativa" para reprimir e matar quem ameace a sobrevivência do regime fraudulento, intelectuais e outras elites (religiosas incluídas), industrializados para promover a acção do poder. Elites que atropelam valores éticos e morais sem os quais é impossível edificar uma sociedade saudável.
A domesticação de intelectuais, que se transformam em papagaios-reprodutores da cartilha do partido-estado, é tarefa indispensável para o "sucesso" do regime fraudulento que tem como objectivo central a sua eternização no poder.
Os intelectuais industrializados são preparados ou auto-preparam-se para secundarizar a fraude e os assassinatos daí decorrentes, assim como transformar a revolta popular ou de opositores como o principal factor de instabilidade da sociedade.
Atacam as consequências, desvalorizam as causas. Centram-se na destruição de patrimónios, nos prejuízos económicos para o país e região, como o desemprego e ignoram as centenas de cidadãos mortos por forças que deviam defender a lei e a ordem.
Para a sustentação da indústria da fraude, são necessários milhões de euros/dólares. Montantes que se destinam a agraciar, acomodar ou silenciar actores primários, secundários ou terciários. Gastos que fazem falta a sectores chaves para o desenvolvimento da sociedade, designadamente, educação, saúde e combate à pobreza.
Para a sua protecção, o regime fraudulento reforça os meios humanos e financeiros alocados aos instrumentos de repressão, incluindo os serviços de segurança e informação do Estado, também incorporados na caça e assassinato de activistas, críticos, jornalistas e manifestantes anti-fraude.
A gratificação fraudulenta engloba a promoção profissional, ou seja, nomeação ou colocação do operário da indústria da fraude ou seu familiar em lugares importantes da sociedade, de excelente renumeração, independentemente da sua competência. Pode também abarcar o acesso a bens materiais móveis, imóveis e pecuniários, para além da ascensão social.
Nesses regimes, a separação de poderes consta do ordenamento jurídico apenas para doadores/comunidade internacional ver. A captura dos media é uma realidade fácil de comprovar com, por exemplo, a recusa das TV em entrevistar opositores com notoriedade que representem uma real ameaça à continuação do regime, mesmo quando esses adversários são destaque nos media de países da região e na imprensa internacional.
Os media dessa grande indústria da fraude, sobretudo as TV, dedicam-se à desinformação e manipulação das populações, principalmente das menos escolarizadas das zonas rurais. Nessa missão, usam não só programas informativos, mas também de entretenimento.
O regime da fraude adopta o lawfare para condenar, ilegalizar ou afastar adversários políticos, activistas, jornalistas e outros críticos do poder, bem como organizações políticas e sociais capazes de abanar o seu "normal funcionamento". Opositores são detidos, julgados, condenados e transformados, desta forma, em presos políticos.
Quando acossados por organizações internacionais que denunciam a existência de presos políticos, esses regimes fraudulentos, para a sua propaganda, põem o líder a simular indultos, amnistias e outro tipo de "perdões" com o objectivo de mostrar a sua forjada "magnanimidade e humanismo".
Nesse regime totalmente fraudulento, os barões do partido-estado controlam o crime organizado e todos os grandes negócios, sobretudo os escuros com as multinacionais da indústria extrativista, peça indispensável nesse complexo e perverso processo. As multinacionais entregam a essa máfia valores que deviam entrar nos cofres do Estado para ajudar a minorar as desigualdades sociais, cancro dessas sociedades.
Protegendo as referidas multinacionais, a chamada Comunidade Internacional (CI) dá respaldo às fraudes, conscientes de que é mais fácil negociar, impor as suas exigências a dirigentes fraudulentos.
Dessa forma, a CI é o garante da mise en scène de democracia e de sociedade livre com que se apresentam os regimes da fraude. Cínica e feroz em atacar quem se recusa em atribuir-lhes direitos de saque das riquezas dos seus países, a CI é ela própria o expoente máximo da fraude global.
Assegurados os seus interesses, a CI, sobretudo ocidental, marimba-se pelos direitos humanos dos povos desses regimes fraudulentos, como de Angola ou Moçambique. Os direitos humanos, as vidas humanas nesses países são secundarizadas ou terceirizadas, garantido que está a intocabilidade de milionários e pornográficos lucros conseguidos com a exploração das riquezas e à custa da miséria e do sangue dos povos locais.
Por outro lado, nos regimes fraudulentos, para a obtenção de resultados eleitorais finais, a vontade popular expressa nas urnas pouco ou nada conta. Sempre com a conivência da observadora CI, as eleições têm sempre garantido o selo de "livres e justas".
Quem decide são as comissões eleitorais e os tribunais/conselhos constitucionais (uma espécie de tribunais eleitorais), locais onde se fabricam resultados eleitorais em série, que fazem da fraude eleitoral uma empresa crucial da indústria da fraude generalizada.
Os gerentes dessas importantes fábricas da indústria da fraude são geralmente membros ou pessoas com ligações ao partido-estado ou ainda familiares do déspota do regime. Isso faz do partido-estado jogador, árbitro, fiscal de linha e, até, com o avanço tecnológico, vídeo-arbitro, numa analogia com o futebol.
Por exemplo, no Gabão do deposto Ali Bongo (derrubado através de um golpe de Estado militar, em 2023), a presidente do Tribunal Constitucional, Marie-Madeleine Mborantsuo, era madrasta do Presidente-recandidato e mãe de dois dos seus irmãos.
Em Angola, essa função foi entregue por João Lourenço, também Presidente-recandidato a um membro do Bureau Político do seu partido, Laurinda Cardoso (só suspendeu a militância após a nomeação), sem que isso suscitasse protestos de indignação por parte da domesticada "oposição".
Portanto, em regimes fraudulentos as eleições são uma espécie de legalização da batota, do crime e da humilhação dos povos que só lhes resta resistir e lutar por dignidade humana contra uma elite predadora.
Por seu lado, ao se transformar numa organização liderada por sindicatos do crime, promotora de raptos, assassinatos, e de diferentes tráficos, a elite do regime fraudulento luta pela sua própria salvação, sabendo que sem a imunidade do Palácio, estaria certamente na cadeia. Dentro ou fora do País.
Tunda Mu Njila: Entre a fraude e a fome
Não é o rei que tem o reino, é o reino que tem o rei. Provérbio africano.
Quanto custa a fraude política-eleitoral? Para a sua efectivação, a fraude eleitoral consistente precisa de regimes sistemicamente fraudulentos, geralmente inscritos como democracia, estados de direito democrático, mas com práticas políticas autocráticas ou ditatoriais, onde o poder funciona como fonte para acumulação de riqueza. Sempre de forma ilícita.
Nesses regimes, as vitórias fraudulentas dos detentores do poder político são sempre por "K.O.", "inequívocas", "retumbantes", "esmagadoras" ou "asfixiantes", de acordo com a propaganda política do partido-estado repetida até à exaustão. "Vitórias" de exclusão do outro, mesmo que este represente maiorias sociológicas.
Quanto custa a fraude política-eleitoral? Para a sua efectivação, a fraude eleitoral consistente precisa de regimes sistemicamente fraudulentos, geralmente inscritos como democracia, estados de direito democrático, mas com práticas políticas autocráticas ou ditatoriais, onde o poder funciona como fonte para acumulação de riqueza. Sempre de forma ilícita.
Nesses regimes, as vitórias fraudulentas dos detentores do poder político são sempre por "K.O.", "inequívocas", "retumbantes", "esmagadoras" ou "asfixiantes", de acordo com a propaganda política do partido-estado repetida até à exaustão. "Vitórias" de exclusão do outro, mesmo que este represente maiorias sociológicas.